3.9.08

Concerto BILLAN - quinta 4 de Setembro (donativo 2€



"Bilan pode ser enquadrado numa reinvenção mais cosmopolita e urbana da música cabo-verdiana com Sara Tavares ou, a pouco conhecida em Portugal, Carmen Souza (podem espreitar via http://www.carmensouza-uk.blogspot.com). Em qualquer dos casos, as raízes de Cabo Verde são cruzadas com a natural globalização de cultura e música vividas pelas novas gerações; sente-se a cadência morna ou cálida, como se adivinha o mainstream internacional, os ensinamentos do jazz, os arremessos do rock, a soul, o r&b… Os dois temas que se ouvem de Bilan com o seu trio no myspace (no Eira ele estará a solo) partem do seu país para o mundo conhecido, como acontece com os restantes compatriotas desta vaga. Mas as raízes das ilhas que caíram da Lua parecem ir aqui mais além. As cadências de “Dia de Manhã” caberiam bem nos experimentalismos de Airto Lindsay, a forma como o arrastar saudoso de “Água Quente” se estende em vocalizações seria digna das melhores aventuras de Milton Nascimento. E ambas são servidas em arranjos menos preocupados em polir para consumo do que em mostrar o esqueleto da autenticidade (provavelmente fruto das circunstâncias, mas ainda assim significativos). É este certo arrojo que torna particular a música de Bilan. Deve ser o tal “experimentalismo” de que também se fala no texto do myspace. Mas é capaz de ser só porque ele “quis continuar livre”, como canta em “Dia de Manhã”. Entretanto, ouvisto no Eira, estes contornos definem-se melhor por se estenderem mais… Airto entre mesmo em despique com Caetano em alguns temas. Para além de Milton, há o que de melhor também têm em si Djavan e Xico César (e, sem encontrar muitas vezes o melhor neles, quando encontro é porque está lá. Como aqui). E a faceta rock que Bilan traz do seu currículo, mais a faceta folk anglo-saxónica (que espreita no myspace a remeter para um território ladeado por Cohen e Drake) fazem-se aqui na sombra benigna de Jeff Buckley. Remetendo de novo, mas por outra via, para as vocalizações estendidas da tal “Água Quente”. Se juntarmos isto tudo, ou mesmo se nos ficarmos por este último parodoxo, percebemos que Bilan deve, de facto, pensar seriamente no dia de amanhã. Afinal ele está numa encruzilhada tão complicada como aquela em que estiveram (e se calhar ainda estão) Ben Jor, Caetano, Gil e Tom Zé quando se lembraram de inventar uma coisa misturada mas autêntica chamada tropicalismo."
Eduardo Sardinha

+ info: http://www.myspace.com/bilansong

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